A Flor, da qual se conta a história, nasceu nos primeiros
tempos da Vida, quando a fruta de Eva ainda não tinha sido mordida e o sol
desconhecia a hora de dormir.
Nasceu plantada em beira de riacho grande,
cercada de grama verde e orvalho pelas manhãs.
O vento, para passar, pedia licença e o rio brincava que ela
deveria ter cuidado, pois ele podia tudo afundar.
E riam o riso mais puro que tinham.
Era vento, era sol e amanhecer.
Passava o dia encontrando desenhos em nuvens e ouvindo tudo
o que contava o, doce e sábio, Sabiá.
À noite, ficava pensando nas coisas que o Sabiá dizia, quase
não dormia, sonhando com sua fuga pela manhã. Fugiria para se encontrar com as
árvores atrás das montanhas e conheceria as belas nascentes dos rios.
Acordava com os olhos encharcados de sonhos e
vontades de conhecer.
Depois ficava toda tristeza, pois não tinha asas, nascera
grudada na grama e não tinha pra onde correr.
‘Flores não voam, pequena!’ diziam os que a viam
chorar.
A pequena Flor, depois de muito tempo, se
revoltou!
Queria conhecer ainda mais a Vida e para isso precisava de
asas e, de tanto que ela queria, decidiu com Deus ir falar!
Lembrou que, certa vez, ouviu das nuvens um conselho que
falava sobre preces e orações.
Segundo elas era só fechar os olhos e dizer, com palavras, o
que se dizia lá dentro, no coração.
Respirou todo sonho que tinha e orou:
-Senhor Deus, tudo o que peço são asas. Há um mundo atrás
das montanhas esperando por mim.
Como toda prece sincera é ouvida, com a dela não foi
diferente. Deus ouvira direitinho o que dizia o coração da pequena Flor.
Amanheceu e, devagar, a pequena Flor abriu suas pétalas, uma
a uma, pela primeira vez e percebeu que poderia, finalmente, voar.
Deus, olhando lá de cima, riu-se.
Riu-se da Flor apaixonada pela Vida e de como ela era bonita
e, então, decidiu:
-A partir de hoje haverá Flor com asas e serão chamadas:
borboletas!
Foi assim que a pequena flor transformou-se.
Quando visitava o outro lado da montanha, dizia às flores
que também sonhavam:
-Não se vai muito longe quando se tem o coração abarrotado
de medo e olhos voltados para o chão. É preciso fé. Mais do que isso, é preciso
coragem. Coragem e vontade de voar.
Texto de: Lu 'Poulain' (Luciana Leitão)
Extraído do Blog Meninas do Reino
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